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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Novo Acordo Ortográfico: fonte de “bem estar”?


Na minha leitura (atrasada como sempre…) da revista portuguesa Visão de 16 de janeiro passado, vi-me perante esta passagem do artigo de opinião de Luís Amado (página 16):
A crise acentuou a função crucial do crescimento nas sociedades ocidentais, significativamente definidas como sociedades de consumo e de “bem estar”. É esse “bem estar” que garante a confiança, a paz social e a estabilidade política, fatores críticos do desenvolvimento.

O “bem estar” de Luís Amado (ou da revista Visão?) provocou-me um verdadeiro mal-estar (nunca o muito comum “mau-estar”, analisado AQUI).
Estando o AO longe de ser uma obra imaculada, não deve ser invocado como justificação para aplicações “à la carte” das novas regras: tiram-se os “cês” e os “pês” (dando origem a “fatos” em vez de “factos” e a “patos” em vez de “pactos”) e os hífenes a eito e está feito!

A consulta das fontes não deixa qualquer dúvida:
FONTE
REGRA
GRAFIA
FO1911
De acordo com a Base  XXXIV, b), o hífen “será utilizado também nos seguintes caso: Os advérbios mal, bem, formando o primeiro elemento de um composto, unem-se ao segundo elemento por hífen, quando sem êle a soletração seria errada; ex.: bem-aventurança (…).
bem-estar
FO43
(BRAS)
Segundo a Base XLVI, 5º g), há hífen a seguir a “bem, quando a palavra que lhe segue tem vida autônoma na língua ou quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança, etc.
bem-estar
AO45
(PORT)
A Base XXIX, 12.°), determina o uso de hífen em “compostos formados com o prefixo bem, quando o segundo elemento começa por vogal ou h, ou então quando começa por consoante, mas está em perfeita evidência de sentido: bem-aventurado, bem-aventurança, bem-humorado (…)
bem-estar
AO 90
(PORT
e
BRAS)
Base XV, nº 4: “Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h (…): bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado.
bem-estar
Nota etimológica:
Vinda do latim bene, a palavra passou pela forma arcaica bẽe. No entanto, já encontramos a grafia bem em textos dos séculos XVIII e XIV. Não consegui descobrir em que altura foi introduzido o hífen em formas em que bem- é elemento de composição, mas encontrei bem-estar em textos do século XIX. Curiosamente, a palavra era considerada galicismo por alguns puristas.

CONCLUSÃO:
Era e é: bem-estar!
Fontes consultadas:
.Infopédia.
.Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado.
.Formulários Ortográficos de 1911 e de 1943 (ainda em vigor no Brasil) e Acordos Ortográficos de 1945 (em vigor em Portugal) e de 1990.

Abraço e desejo a todos muitos momentos de bem-estar!
AP
Imagem encontrada AQUI.

domingo, 26 de janeiro de 2014

vice-primeiro-ministro ou vice primeiro-ministro?

Extrato de uma notícia do jornal Público publicada ontem:
Segundo um comunicado da presidência, Ianukovich também se propôs nomear o antigo pugilista e líder do partido Udar (Murro), Vitali Klitschko, vice primeiro-ministro com responsabilidade sobre os “assuntos humanitários”, e a rever a Constituição para reduzir significativamente os seus poderes. A nota oficial omitia, porém, se os dois líderes da oposição tinham aceitado ou declinado a proposta.

Vice primeiro-ministro? Mesmo tendo em conta que o jornal Público não aplica o Novo Acordo Ortográfico, é assim que se escreve (ou escrevia)? Não, senhores, não é! Nem era!

Explicação:
1. Primeiro-ministro era e continua a ser hifenizado:
Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos (…) constituem uma unidade sintagmática e semântica (…): ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião (…)” Base XV, nº 1, do AO
2. E vice? Também aqui se mantém o que estava estatuído pelo AO45 (Portugal) e FO43 (Brasil): Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante (…); sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente (…), vizo-rei.” Base XVI, nº 1 e), do AO.
A regra era e é muito simples (coisa rara na hifenização!): Há sempre hífen a seguir a vice-.

CONCLUSÃO:
vice-primeiro-ministro!
 
Assim sendo, nota negativa para o Público!

Abraço.
AP
Imagem encontrada AQUI.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Sobre o alegado «desinteresse» do Brasil pelo Acordo Ortográfico

Transcrevo na íntegra este texto do Ciberdúvidas (publicado em 12/01/2014)
Sobre o alegado «desinteresse» do Brasil pelo Acordo Ortográfico

José Mário Costa (jornalista, cofundador e responsável editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)

A ideia-feita – veiculada recorrentemente na imprensa portuguesa – de o Brasil já «não estar interessado em que a nova ortografia seja lei» foi pretexto para esta carta do autor, publicada no semanário Expresso de 11 de janeiro de 2014. Segue-se a versão integral.

No jornal Expresso de 4 de janeiro [de 2014], num conjunto de “previsões” para 2014 (“Cem perguntas para 2014”) , lê-se a páginas 8 textualmente o seguinte:
«Apesar de este ano a discussão em torno do Acordo Ortográfico ter abrandado, a sua entrada em vigor nunca esteve tão longe. O Brasil, o principal interessado no AO, acaba de o pôr em causa em pleno Senado, que diz não estar interessado em que a nova ortografia seja lei.»
A afirmação é pouco compreensível num jornal que já aplica integralmente a nova ortografia, precisamente porque o Acordo Ortográfico  se encontra em vigor, tanto em Portugal, como no Brasil. A redação da previsão deveria ser exatamente a contrária. Ou seja, o AO nunca esteve tão longe de não ser aplicado.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

bem-te-vi-miúdo OU bem te vi miúdo?


 
O meu caro leitor estará certamente a interrogar-se sem saber muito bem aquilo de que lhe estou a falar…
No entanto, se for o famoso naturalista David Attenborough ou um cidadão brasileiro, já sabe que estamos a falar da pequena ave que está na imagem, originária do Brasil, segundo país do mundo com maior número de espécies de aves conhecidas (cerca de 1840), a seguir à Colômbia (com 1900).
 
Respondendo à pergunta:
Devemos escrever bem-te-vi-miúdo!
 
Porquê?
Consultemos o AO90 (Base XV, ponto 3): “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde;(…) cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar.
Nota: Embora nem o AO45 (em Portugal) nem o FO43 (no Brasil) tivessem uma regra para estes compostos, era habitual fazer-se a hifenização na maior parte dos casos. O AO90 consagra a prática anterior na regra acima enunciada, não havendo exceções: todas as palavras que designam plantas e animais são hifenizadas.
Bem-te-vi-miúdo é o nome popular da nossa ave, também conhecida, entre outros nomes, como guaracava-de-barriga-amarela, maria-já-é-dia e maria-tola.
 
Abraço a todos!
AP

Imagem encontrada AQUI.
Informações sobre a ave consultadas AQUI.

domingo, 19 de janeiro de 2014

mal criado, mal-criado OU malcriado?

Será que se escreve assim? Hum...


Falando de educação (ou da falta dela!), devemos escrever malcriado!

Esta regra não é uma malfeitoria do Novo Acordo, pois ele limita-se, na Base XV, nº 4, a dar uma nova redação à regra "antiga": Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado)

Notas: 
A. Situações em que há hífen a seguir a BEM e MAL:
MAL
.   Apenas antes de vogal ou h:
Ex.: mal-humorado e mal-educado.
BEM
.   Antes de vogal ou h:
Ex.: bem-humorado e bem-educado.
.   Mas também em todas as outras situações em que haja unidade semântica:
Ex.: bem-criado, bem-comportado, bem-disposto, bem-feito, bem-intencionado, bem-mandado, bem-parecido, bem-nascido, bem-sucedido, bem-vindo, bem-visto, etc.

B. Na Nova Gramática do Português (1984, pág. 66), Celso Cunha e Lindley Cintra abordam o assunto de uma forma um pouco diferente, seguindo de perto o Formulário Ortográfico de 1943 (Brasil):
nos compostos com bem, quando o elemento seguinte tem vida autónoma, ou quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança».


DICA MUITO RENTÁVEL, com elevadas hipóteses de acertar:
Com bem, use sempre hífen; com mal apenas antes de vogal ou h!


Esperando que todos fiquem BEM,
AP
Imagem encontrada AQUI.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

anti-social, antisocial ou antissocial?

 "antisocial"? Grafia errada, completamente fora de jogo...

Esta é uma regra alterada (parcialmente) pelo Novo Acordo Ortográfico.
1. Escrevíamos anti-social, pois, com o FO43 (Brasil), o prefixo anti era separado por hífen, quando seguido de h, r ou s, o mesmo acontecendo com o AO45 (Portugal), quando antes de h, i, r ou s.
2. Determinando o AO90, na Base XVI, nº 2 a) que “Nas formações em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devem estas consoantes duplicar-se”, a nova grafia é antissocial.
Nota: Os olhos têm dificuldade em adaptar-se à mudança, no entanto a duplicação do r ou s não é uma novidade, sobretudo nas áreas técnica e científica. Exemplos de grafias anteriores ao AO: biorritmo, biossonda, ecossistema, morfossintaxe, multirrisco, fotossíntese macrorrizo, havendo casos em que coexistiam duas grafias (mini-saia e minissaia, por exemplo).

CONCLUSÃO:
Segundo o FO43 e AO45
De acordo com o AO90
anti-social
antissocial
 
Exceções: usa-se hífen quando o 2º elemento é uma sigla (anti-ONU), um nome próprio (anti-Blatter) ou um estrangeirismo (anti-stress).

Abraço.
AP
Imagem encontrada AQUI.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Ronaldo ganhou a BOLA-DE-OURO ou a BOLA DE OURO?

http://www.mirror.co.uk/sport/football/news/ballon-dor-cristiano-ronaldo-wins-3018864

Procuremos a resposta nas fontes...


1. Formulário Ortográfico de 1943, Base XIV (ainda em vigor no Brasil): “Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção da composição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido.
2. Acordo de 1945, Base XXVIII (ainda em vigor em Portugal e restantes países lusófonos, excluindo o Brasil): “Emprega-se o hífen nos compostos em que entram (…) dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um sentido único ou uma aderência de sentidos. Exemplos: água-de-colónia, arco-da-velha, bispo-conde, brincos-de-princesa, cor-de-rosa (…).
3. AO90, Base XV (em vigor na maior parte dos países lusófonos e ratificado pelo Brasil, Cabo Verde, Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Timor-Leste e Moçambique): “Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei (…)

Se em relação ao FO43 e ao AO45 podemos eventualmente hesitar, uma vez que há em “Bola de Ouro” uma unidade de sentido (=prémio criado pela revista France Football para o melhor futebolista de cada ano), com o AO90 fica claro que não se emprega hífen quando não há formas de ligação (salvo em algumas exceções já consagradas pelo uso, como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).

Já tinha sido com Eusébio e Figo e continua a ser com Ronaldo:

Bola de Ouro!


Abraço para todos e parabéns ao nosso CR7!
AP

CURTO-CIRCUITO ou CURTOCIRCUITO?

Antes que os anti-AO e alguns que, embora sendo pró, desconhecem as novas regras (que também os há…) me jurem pela pele, aqui vai a resposta:
Pode continuar a curto-circuitar…
                                   curto-circuito mantém o seu hífen!

O AO90 sistematiza as regras do hífen e simplifica-as nas locuções e formações por prefixação, mas não as altera nos compostos sem elementos de ligação (por exemplo, arco-íris, segunda-feira, guarda-chuva e… curto-circuito!).
O nº 1 da Base XV do Novo Acordo Ortográfico não altera o que estava estatuído pelo AO45 e FO43:
Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.

Abraço!
AP
Imagem encontrada AQUI.

domingo, 12 de janeiro de 2014

k, w e y: danças com letras!


Uma das alterações trazidas pelo Novo Acordo Ortográfico foi a inclusão das letras k, w e y no alfabeto: “O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras”.
Antes, segundo o Formulário de 1943 (Brasil) e Acordo de 1945 (Portugal), o alfabeto era constituído por 23 letras.

Na prática, que consequências tem, no uso da língua portuguesa, esta alteração introduzida pelo AO90? NENHUMA!
 
 
Repare:
A. O Formulário Ortográfico de 1911 embora determinasse que eram “proscritas de todas as palavras portuguesas, ou aportuguesadas, as letras k, w, y”, previa exceções:
1.ª Poderão usar-se essas letras em vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros (…).
2.ª Continuam em uso os símbolos W, para denotar o Oeste, e K como abreviatura de unidade métrica, e tambêm na forma international kilo, que todavia se poderá escrever quilo;
B. O AO45, como o FO43, manteve as letras k, w e y fora do alfabeto, mas continuou a prever casos especiais:
O k, o w e o y mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros que se escrevam com essas letras (…).
C. O AO90 junta as letras k, w e y ao alfabeto, mas circunscreve a sua utilização também a casos especiais: em topónimos e antropónimos originários de outras línguas e seus derivados; em siglas, símbolos e palavras unidades de medida internacional.
 
 
Conclusão:
A inclusão de k, w e y no alfabeto não altera em nada o uso dessas letras na língua portuguesa. Já as tínhamos nos teclados dos computadores e telemóveis…
 
 
Com todas as letras, deixo o meu abraço.
AP

 
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sábado, 11 de janeiro de 2014

são-tomense, são tomense, são-tomeense ou santomense?

S. Tomé e Príncipe (onde deverei estar em março, como voluntário, no âmbito da formação de professores)

O AO90 não altera as regras da ortografia nos domínios dos topónimos e respetivos derivados:
1.   Emprega-se o hífen nos topónimos compostos iniciados por grã, grão (Grã-Bretanha, Grão-Pará), por forma verbal (Passa-Quatro, Mira-Sintra) ou cujos elementos estejam ligados por artigo (Todos-os-Santos, Montemor-o-Novo).
Exceções: Guiné-Bissau e Timor-Leste.
2.   Todos os compostos derivados de topónimos (gentílicos) são hifenizados: cabo-verdiano, rio-grandense-do-sul, mato-grossense, belo-horizontino, vila-franquense, são-tomense. Nalguns casos, há mais do que uma grafia correta: são-joanense, sanjoanense e são-joanino (de S. João da Madeira); são-tomense e santomense.

Conclusões:
São Tomé e Príncipe
 
são-tomense ou santomense
São Tomé (do Paraná ou do Rio Grande do Norte, Brasil)
e
São Tomé das Letras (Minas Gerais, Brasil)
são-tomeense

Abraço especial para S. Tomé e Príncipe.
AP
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