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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

.idéia ou ideia?

Não é raro encontrarmos as duas formas (com e sem acento) do desafio de hoje. Mas apenas uma está correta, não havendo, neste caso, diferenças entre Portugal e o Brasil. Mas já houve, como vamos ver.
1. No dia 1 de setembro de 1911, foi oficializada uma verdadeira revolução na escrita em Portugal com o Formulário Ortográfico (inspirado nas Bases da Ortografia Portuguesa de 1885, de Gonçalves Viana, e que o Brasil só viria a adotar 20 anos mais tarde).
Na Base XXXII [os ditongos éi, ói, éu] diz-se:
Os ditongos éi, ói, éu, sempre finais tónicos, receberão o acento agudo, que os diferença de ei, oi, eu, fechados; ex.: painéis, heróis, chapéus; em réis, batéis, papéis, sóis êsse acento distingue tais vocábulos dos seus homógrafos reis (de rei), bateis, papeis (de bater, papar), sois (do verbo ser). Outros exemplos são bóia, jóia (cf. joio, com o fechado), gibóia, herói(s), etc.
Sendo um ditongo aberto, escrevia-se idéia, segundo as regras de 1911.

 2. Em 1943, no Brasil, o Formulário Ortográfico vai no mesmo sentido, como vemos na Base 43:
Põe-se o acento agudo na base dos ditongos abertos éi, éu, ói, quando tônicos: assembléia, bacharéis, chapéu, jibóia, lóio, paranóico, rouxinóis, etc.
Portugal e Brasil centram-se na mesma idéia. Assim é que é bonito!
 
3. Dois anos depois, novo afastamento. O acento que aproximava os dois lados do Atlântico vai perder-se do lado de cá.
Recuperando as conclusões complementares do Acordo de 1931 (que nunca viu a luz do dia), o Acordo Ortográfico de 1945, aplicado apenas em Portugal, determina, na Base 16:
O ditongo ei da terminação eia, mesmo que possa soar éi, nunca leva acento agudo, em virtude das divergências que neste caso existem não apenas entre a pronúncia portuguesa e a brasileira, mas também entre as pronúncias de regiões portuguesas. Escreve-se, portanto: assembleia, ateia (feminino de ateu), boleia, Crimeia, Eneias, Galileia, geleia, hebreia, ideia, nemeia, patuleia, plateia, do mesmo modo que aldeia, baleia, cadeia, cheia, lampreia, sereia, etc.
  Por idêntica falta de pronúncia uniforme, dispensa-se também o acento agudo no ditongo ei da terminação eico e no ditongo oi de algumas palavras paroxítonas: coreico, epopeico, onomatopeico; comboio (todavia combóio, como flexão de comboiar), dezoito.
1945: ideia em Portugal é idéia no Brasil…
 
4. Em 2009, é ratificado o Novo Acordo Ortográfico (janeiro no Brasil e maio em Portugal). E a ideia volta a estar na ordem do dia. A Base IX alarga ao Brasil extinção do acento ocorrida em Portugal 64 anos antes:
Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.
2009: a mesma ideia em todo o universo da lusofonia!
 
CONCLUSÕES:
Portugal (norma luso-afro-asiática) e Brasil (norma brasileira)
ideia
Notas: O Brasil perdeu este acento em 2009, com o Novo Acordo, mas Portugal e os restantes países lusófonos já não o utilizavam, seguindo as regras do Acordo de 1945.
 
Abraço.
AP

Atenção:
Nova mensagem no http://portuguesemforma.blogspot.pt

Na ponta da língua: "à sério", "a sério" ou tanto faz?

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